A atriz e comediante Claudia Rodrigues teve um duplo presente de aniversário na última quarta-feira (7), quando completou 46 anos. Ela recebeu alta do Hospital Albert Einstein, onde estava internada em decorrência de uma crise emocional. Mais importante ainda: Claudia teve alta do tratamento relativo ao transplante de células-tronco que fez em janeiro de 2016 por conta da esclerose múltipla.
Claudia Rodrigues tem esclerose múltipla, uma doença sem cura e cuja origem ainda não é definida pela ciência. O diagnóstico da atriz foi confirmado em 2000. O tratamento baseado em transplante de células-tronco a qual ela recorreu é experimental: apenas pequenos grupos dentre as mais de 2 milhões de pessoas portadoras da doença testaram o método.
O período de tratamento prevê a possibilidade de que ocorra uma série de surtos emocionais – como o mais recente sofrido pela comediante. Além disso, é preciso isolamento quase total durante um a dois meses – como o procedimento enfraquece o sistema imunológico, abre-se uma janela para diversas doenças.
“Agora ela está novamente autoimune. Pode voltar a abraçar e beijar os fãs, algo que ela sentia muita falta”, celebra Adriane. Claudia Rodrigues agora voltará à clínica onde fazia um trabalho de fisioterapia para recuperar o equilíbrio e a qualidade no andar – até novembro deve ter alta também deste tratamento.
Segundo o coordenador médico do centro de tratamento de esclerose múltipla do programa integrado de neurologia do Hospital Albert Einstein, Rodrigo Thomaz, se o tratamento for bem sucedido, a doença para de progredir. “Estaciona onde está, as lesões são interrompidas e os surtos param por anos. Em comparação com outros tratamentos, é o que deixa o paciente mais livre dos surtos”, explica.
Esclerose múltipla: o que é
A esclerose múltipla ainda não tem sua causa conhecida pela ciência e ela pode surgir sem nenhum sinal prévio ou herança genética – antes de se manifestar, seus sintomas são imperceptíveis e podem se arrastar por anos. Estima-se que aproximadamente 2,3 milhões de pessoas tenham a doença em todo mundo, sendo 35 mil deles brasileiros.
Na doença, o próprio sistema imunológico do paciente ataca a bainha mielina, que é a substância que reveste e protege as fibras nervosas do cérebro, da medula espinhal e do nervo óptico. Assim, ocorrem curto-circuitos dos fluxos nervosos e, a cada surto, surgem lesões cerebrais que podem resultar em danos irreparáveis.
As consequências da esclerose múltipla podem variar desde fadiga e fraquezas, passando por tremores e confusões visuais e de fala, até o estágio mais avançado, que afeta condições cognitivas.
Como funciona o transplante de células-tronco
Em termos gerais, podemos entender o tratamento via transplante por células-tronco como um “reset” no sistema imunológico. São quatro os principais estágios da terapia:
Produção de células: o primeiro procedimento pelo qual o paciente é submetido é um ciclo curto de quimioterapia, que estimula o organismo a produzir células-tronco do tipo hematopoiéticas. Essas células brancas do sangue (linfócitos) são recolhidas pelos médicos.
Quimioterapia intensa: durante dez dias, o paciente é submetido a sessões intensas de quimioterapia – é o pior momento de todo tratamento, os efeitos colaterais são fortes. Nesta etapa, o sistema imunológico até então doente é destruído pelas sessões. “Pode causar fraqueza, fadiga extrema, náuseas, queda de cabelo e infecções de toda ordem. Como o tratamento zera as células brancas do sangue, zera também as vermelhas, e é comum que tenham anemia”, relata Dr. Rodrigo.
Reinserção das células: as células-tronco retiradas passam por um processo de análise e delas são retirados quaisquer traços da doença. Após a quimioterapia, elas não reinseridas no corpo. O sistema imunológico é, então, reiniciado do zero. “A vantagem é que é próprio do paciente, não precisa de doação de medula. Nao tem risco de rejeição no futuro como outros tipos de transplante”, afirma o neurologista.
Recuperação: logo após a reinserção das células-tronco, o sistema imunológico ainda não cumpre sua função no organismo. Nos primeiros um ou dois meses, o risco de contrair infecções é alto e o paciente precisa de isolamento quase total. Durante dois anos após o “reset” no sistema imunológico, ainda é preciso cuidado com contaminações.
“Nos primeiros dias, o paciente fica muito vulnerável a infecções e geralmente exaustos, acamados. Há risco de infecção generalizada e, devido a coágulos, trombose e embolia pulmonar”, alerta o médico.
Quais os riscos e resultados
De acordo com as pesquisas mais recentes, os benefícios do tratamento são bastante evidentes. Assim como os riscos que ele traz.
“O tratamento não é a primeira opção, só recomendamos quando uma terapia já consagrada falha. Não existe tratamento 100% eficaz, nem em relação aos medicamentos mais novos, mais modernos”, explica Dr. Rodrigo. “Não é um procedimento fácil de ser feito, tem risco. O médico precisa ponderar o risco transplante e o risco doença”.
No mais amplo estudo sobre o transplante de células-tronco para o tratamento da esclerose múltipla, realizado pelo Imperial College de Londres, e publicado na revista científica Jama Neurology, 73% dos pacientes não tiveram piora no quadro após o procedimento – um resultado bastante positivo.
Dos 281 pacientes acompanhados entre 1995 e 2006, 46% tiveram inclusive melhoras neurológicas durante o intervalo de cinco anos. Constatou-se que quando realizado em pacientes mais jovens ou no estágio inicial da doença, melhores são os resultados. Nos casos mais graves, o risco cresce.
Aí mora o perigo: em consequência do tratamento, oito pessoas morreram até 100 dias depois do transplante, de acordo com a pesquisa inglesa. No Canadá, um estudo realizado pela Universidade de Ottawa e publicado no jornal científico The Lancet, apontou risco de mortalidade ainda maior: 4,15% não sobreviveu – logo que o tratamento foi testado, este índice chegou a 8%.
O levantamento canadense, por outro lado, trouxe respostas positivas mais importantes: sete em cada dez pacientes teve a progressão da doença interrompida ou até revertida, e 4 a cada dez reverteram sintomas graves, como perda da visão e fraqueza muscular.
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